Talvez você já deva ter visto vários sinais em lojas, ou não; o que importa é que agora você vai saber porque esta tradição ainda existe na França e como ela surgiu.
1º Vamos entender como era o comércio antigo e como se localizavam.
Antigamente antes de existirem os "sinais", os comércios eram feitos com seus produtos diretamente expostos na frente de estandes de madeira (quando se tinha uma), ou em caixotes, ou então diretamente no chão em um espaço amplo onde se misturavam vários tipos de mercadorias e cada comerciante em seu espaço atendia os interessados em fazer troca ou comprar um produto. A isto se dava o nome que hoje conhecemos de "feira", protegidas pelos senhores FEUDAIS.
O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO, a qual sem sombra de dúvida foi consequência das famosas CRUZADAS, fez com que através dela houvesse o contato entre o Ocidente e Oriente; e nasce deste contato a transição dos europeus dos costumes da Idade Média para as novas técnicas adquiridas através dos árabes mulçumanos.
Técnicas aperfeiçoadas de metalurgia, técnicas de Navegação e construção de Barcos maiores (navios), os algarismos arábicos entre outros.
Vale ressaltar que o comércio voltou com força total devido a volta da circulação da moeda novamente na EUROPA devido a reabertura ao comércio cristão. (em outra matéria falarei sobre isto).
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Hotel Saint-Martin
Colmar-Alsace, France |
Muitos locais onde se organizavam as feiras deram origem a Burgos – núcleos urbanos com intensa vida comercial e ativa produção artesanal. Aqui surge também as Casas de Câmbio, devido a grande variedade de moedas em circulação, e também a cobrança de impostos.
Com as novas técnicas de metalurgia adquiridas e o crescimento do comércio, os vendedores sentiram a necessidade de mostrar o seu estabelecimento, pois eles com a evolução deixaram a concentração de "feiras" e passaram a ter em suas casas (lojas) a "cofragem" (tipo de muro com suporte para exposição de mercadorias em frente a loja do lado de fora, diretamente em contato com os pedestres na rua. Os donos ficavam diretamente na porta ou algum funcionário para atender os clientes. As lojas ou oficinas mais sofisticadas tinham a frente de vidro para que os donos pudessem ver a chegada do cliente.
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Saint Malo, France Biblioteque |
Era assim pois foi a maneira mais simples e direta do cliente saber o que procura e onde comprar (tecidos, alimentos, aves, pães, sacolas de viagem, forjaria, etc).
Isto acontecia profundamente nas cidades medievais ... Junto às principais ruas e lugares: casas. No piso térreo de cada um deles, ou quase: uma tenda.
A partir da era do Renascimento, os cliente começam a frequentar dentro das lojas, isto devido a um elemento chave: O "SINAL" (Ensign), o ápice da inteligência e a primeira tentação aos clientes e proprietários. Conforme escreveu Henri Baudin em 1905, "a (Ensign), foi a alegria e adorno das ruas; ela quebrou as linhas monótonas; ela colocou cor, ouro, luz ambiente na cor cinza do nosso país; deu as casas uma atmosfera de festa perpétua".
A palavra SINAL vem de "signum" ou seja, a indicação, Índice de identidade, autenticidade. Por volta do século XIII, para quem conhece história, sabe que houve expansão da maioria das cidades na Europa, e com a necessidade de identificação das casas, lojas e pontos chaves da cidade como as ruas. Os "sinais" começaram a crescer juntamente com elas e também a necessidade de um design único que identificasse uma casa ou comércio, e as ruas começaram a ter nomes próprios.
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Créperie - Le Faou, França |
Porém nem tudo era fácil assim, pois a maioria eram analfabetos, então os comerciantes usavam formas de desenhos que os identificassem, variava muito conforme a técnica usada e o que o comerciante queria. Havia de madeira, ferro ou os dois juntos.
O que impressionava era justamente a disputa dos comerciantes que tentavam fazer um "sinal", maior que o outro vizinho ou concorrente, para poder chamar a atenção de longe, ou os trocadilhos de palavras. As vezes se dava a atender outra coisa e não justamente o que se queria anunciar ou vender.
Agora imagine você a poluição visual. Por causa destas disputas, as ruas começaram a ter problemas como o escurecimento delas, o ranger como também alguns acidentes com o despencamento dos sinais maiores atingindo inclusive pedestres. Começou a se ter muitas queixas e com a proliferação, houve-se a necessidade de um decreto que regulamentasse as dimensões e quem poderia usar.
Napoleão em 1810, nomeia uma comissão para corrigir os erros demasiado alto nas lojas parisienses. no século XVII, o que determinou também a diminuição e o padrão comumente usado ainda hoje, era o preço, a segurança e material usado. Com isto surge os sinais nas paredes também através de arte. Isto chamou a atenção de alguns artistas na época.
Na realidade os comerciantes tinha 3 opções na antiguidade:
1- pendurar seus produtos do lado de fora
2- usar um objeto do comércio que o caracterizasse
3- Ou uma indicação escrita, mas este nem sempre ajudava, pois como disse anteriormente a maioria era analfabeta.
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Paris - France |
Com o decreto de Napoleão, as regras básicas eram:
1- O sinal deveria ser de madeira ou ferro, porém fixa na parede
2- Não podia exceder a um certo tamanho, para não deixar as ruas feias (não sei precisar o tamanho).
3- Sinal no chão, tipo cavalete que não atrapalhasse a passagem.
4- Sinal na parede.
No entanto, quase todas as lojas tem o sinal pendurado em um braço e pintado em ambos os lados de um painel madeira ou metal. Alguns são esculpidos e alguns de ferro forjado.
Dada a sua diversidade, os sinais passou a estampar a maioria de todo o tipo de comércios, onde acabou chamando a atenção para profissionais como: pintores, ferreiros, marceneiros e escultores.
Não há como negar que existe um mais lindo que o outro e com certeza na época antiga até os dias atuais ela continua sendo um charme e um ícone de cada comércio.
Hoje as prefeituras tem uma regulamentação mais ferrenha para os sinais, mas não deixou este maravilhoso ícone europeu morrer na história.
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Alsace, France |
Tanto que há galerias em Paris, lojas e no interior da França que há inúmeros sinais, como também o Museu Carnavalet, em Paris, possui uma sala somente de placas antigas do século XVI até o século XX. A mais famosa do museu é o "Chat Noir", um cabaré famoso de Montmartre fundado em 1881. Vale uma visita a esta enorme sala com preciosidades de sinais.
Empresas especializadas, fazem manutenção nas antigas placas; como com novos materiais do século 21 que imitam e relembram os antigos sinais, fabricam novas placas.
Aprecie as imagens e diga você mesmo se é ou não um ícone da história que deva ser valorizada ainda por muitos anos.
Agora quando for a França novamente, veja com os olhos um pouquinho para cima e irá se encantar com os mais variados tipos de sinais.
“Où il n’y a pas d’église, je regarde les enseignes, pour qui sait visiter une ville les enseignes ont un grand sens”. - Victor Hugo, 1840
Fontes de inspiração: